Broa de Milho

Leandro Machado
27 de dez. de 2023
3 min de leitura

Atualizado: 20 de jan. de 2024

Fofa, macia e perfumada. Algumas tem uma casquinha crocante que derrete na boca a cada mordida. Seu aroma nos conecta a uma xícara de café. Penso que essa é a melhor forma de definir uma broa de fubá. Tão comum nas padarias e nos lares dos brasileiros que nem damos conta da sua longa trajetória pela história da humanidade.

Tudo indica que teria surgido no Brasil, por volta do século XVIII. Nesta época, os portugueses e os africanos começaram a usar o fubá em diversos pratos. O primeiro registro histórico brasileiro das broas é de 1733, quando Domingos de Souza Braga registrou seus gastos domésticos em um livro, que hoje serve como importante documento sobre a vida em Vila Rica, a atual cidade de Ouro Preto. Entre suas aquisições, lá estavam “treze broas”.

No entanto, a broa é ainda mais antiga. Há relatos de que as primeiras espigas de milho chegaram à Europa pela mãos de Colombo em 1493. Parece que em 1515, o consumo de milho já era comum entre os portugueses. Em pouco tempo, eles levaram esse versátil cereal a todos os territórios do seu império, que incluía as terras do Atlântico, do Índico e do Pacífico, bem como a América portuguesa.

ree — Provável retrato de Colombo por Sebastiano del Piombo, 1519. Não há retratos autenticados de Colombo.

É importante ressaltar que a broa de milho é relativamente recente. Dos anos 420 DC até 711 DC, os visigodos, povo bárbaro de origem germânica, estabeleceram seu reino ocupando praticamente todo território da Espanha e do sudeste da França. Tudo indica que eles preparavam um pão à base de centeio e o chamavam de "braup".

Diferente do que se imagina, a palavra "broa" não tem origem no latim. Parece não haver um consenso entre os historiadores e antropólogos, mas tudo indica que o termo broa tem a sua origem na palavra germânica "brod". No final do século IV, padres missionários latinizaram a palavra "brod", dando origem as palavras ‘broth’, ‘brou’, ‘brodo’ e ao típico ‘breath’ britânico. Ainda, em galego diz-se ‘boroa’, como aliás se dizia em português medieval.

No Arquivo Nacional Torre do Tombo (Biblioteca Nacional), em Lisboa, existe um documento de 1417 que define a broa como 'pão de painço* de que usavam os pobres’. Era o pão do dia-a-dia do povo comum. Foi só no século XX que a broa passou a ser consumida por todas as classes sociais.

ree — Prédio do Arquivo Nacional Torre do Tombo, em Lisboa, Portugal

Já a palavra fubá tem origem no idioma quimbundo, da família bantu, falada no noroeste de Angola, incluíndo a capital Luanda. Os povos africanos, que, infelizmente, foram trazidos a força pela escravidão brasileira, fizeram uma grande contribuição para o uso do milho e seus derivados na gastronomia brasileira.

Em Portugal, durante a Segunda Guerra Mundial, a broa era o pão do campo que, durante a escassez de alimentos, dava energia aos camponeses. Com a falta de trigo, fez-se uso do pão baseado em farinha de milho branca. Nessa época, se tornou famosa a sopa do Cavalo Cansado, tomada pelos camponeses, onde pedaços de broa eram embebidos em vinho verde tinto, salpicados com açúcar. Muitas vezes se adicionava, em vez do açúcar, um pouco de azeite e eventualmente um ovo. Vale dizer que a broa de milho é um pão resistente, capaz de durar alguns dias sem quaisquer problemas. Mais um motivo para os camponeses portugueses utilizá-lo.

ree — Sopa do cavalo cansado com pedaços generosos de broa de milho

Gostaria de passar horas e horas contando muitos outros detalhes históricos sobre esse pão tão simples, tão rico e tão presente na caminhada da humanidade, mas acredito que na próxima vez que degustar uma broa de fubá com uma xícara de café, você vai pensar na trajetória de uns 1.500 anos desse delicioso pãozinho.

Receita da broa de fubá fofinha

Ingredientes

350 g de trigo;

120 g de fubá;

70 g de açúcar;

7 g de sal;

20 ml de óleo;

1 ovo;

200 ml de leite;

8 g de fermento biológico seco;

10 g de erva-doce.

Modo de preparo: assista ao vídeo.

*O painço é um tipo de cereal, derivado dos grãos do milho-painço. Com origens na Ásia e na África, o ingrediente é muito famoso por ser usado como alimento para pássaros.

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